Crítica- Ainda que sem o brilho dos originais, Indiana Jones e a Relíquia do Destino preza por paradigmas e entrega aventura que entretém.
Indiana Jones é um dos maiores heróis da história do cinema. Criado por George Lucas em parceria com Steven Spielberg e interpretado por Harrison Ford, ao longo da década de 80 o personagem estrelou uma bem-sucedida trilogia de filmes que ajudou a estabelecer parâmetros para o cinema de ação e aventura norte-americano. Hoje, quinze anos após a sua última aparição nos cinemas, que se deu no controverso Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008), o arqueólogo retorna as telas para uma aventura inédita: Indiana Jones e a Relíquia do Destino, que, dessa vez capitaneada pela Disney (detentora da LucasFilm desde 2012), enfrentou desde a troca de diretores e roteiristas até a pandemia e acidentes envolvendo Ford durante as gravações para que pudesse, finalmente, chegar aos cinemas.
Viajando até o passado da história do personagem, Indiana Jones e a Relíquia do Destino é um filme cujo começo, inteiramente dedicado à um longo prólogo, exala o espírito de uma legítima aventura de Indiana Jones. Moldada a base de elementos característicos desses filmes, essa sensação de estarmos diante de um longa-metragem do arqueólogo ganha vida com direito ao herói (aqui em uma versão rejuvenescida digitalmente de Harrison Ford) disfarçado entre nazistas e utilizando de seu humor irônico característico em meio a uma perseguição ambientada em um trem, onde a ação se desenrola de forma dinâmica e tensa.
Daqui em diante, James Mangold, que substitui Steven Spielberg no cargo de diretor pela primeira vez em um longa da saga, tenta manter isso pelo restante do filme inteiro. Seguindo um manual criativo da franquia, ao longo da trama nos deparamos com inúmeras sequências de ação prezando sempre por esse tom dinâmico na encenação e na montagem, mas que não é caótico ou difícil de acompanhar.
Nesse quinto filme, Mangold, de toda forma, não tenta emular a direção de Spielberg. E isso acaba sendo bom e ruim ao mesmo tempo, já que as assinaturas do diretor original, que traziam um charme e uma identidade visual únicas na construção de uma atmosfera envolvente nos longas anteriores, acabam fazendo certa falta, como é o caso dos enquadramentos tecnicamente caprichados do cineasta e o uso marcante das luzes e das sombras na fotografia- fatores esses que, nos primeiros Indiana Jones, resultavam, dentre outras coisas, em belos momentos onde a sombra do aventureiro se projetava pelos ambientes; em closes nos rostos dos personagens que ilustravam as suas emoções diante daquele universo de forma destacada; e em planos antológicos como o da silhueta dos heróis ao pôr do sol escavando o local onde encontra-se a arca da aliança em Os Caçadores da Arca Perdida (1981).
Essa falta de um charme visual específico, entretanto, se torna um problema mais latente na parcela final de filme. Nela, todas as sequências que envolvem a tão especulada viagem no tempo soam o contrário do que sempre foram os embates de Indiana Jones contra seus rivais e as revelações finais em torno dos artefatos históricos que o protagonista buscava em suas aventuras anteriores. Se, originalmente, as audiências eram estonteadas por locações reais e efeitos práticos da melhor qualidade para o seu tempo, em A Relíquia do Destino tudo não passa de cenários artificiais e efeitos digitais genéricos pouco inspirados em serem encantadores.
Indo além da ação, A Relíquia do Destino, que foi promovido como um capítulo final da história do herói, também busca dar certo foco para o lado humano desse personagem. Nada é muito aprofundado, mas a trama pincela a história de um grande caçador de antiguidades e relíquias que agora se sente ele mesmo uma dessas peças. Vemos um homem enfrentando a terceira idade, perdas pessoais e prestes a se aposentar que parece deslocado em um mundo cada vez mais moderno, que celebra o retorno de astronautas da lua e onde jovens escutam a canção “Magycal Mystery Tour” dos Beatles em um volume alto que chega a incomodá-lo em determinado momento.
E é com relação a esse lado humano que, entre altos e baixos, Indiana Jones e a Relíquia do Destino ainda consegue entregar um final digno para o personagem (ou será esse realmente um final?), que provavelmente deixará boa parte dos fãs de coração aquecido logo após o término da sessão. Privado de conseguir aquilo que considera ser o que vinha buscando por toda a sua vida, o desfecho dado ao icônico herói, aqui, é muito mais sobre uma (re)conexão com um fator mais humano, que vai além de artefatos históricos que, como descritos por ele mesmo ao longo dos filmes, pertencem a um museu.
E esse é um desfecho que soa condizente com esse herói eternizado na pele de Harrison Ford. Afinal, nas conclusões de suas façanhas pregressas, Indiana Jones não fica com a Arca da Aliança, com as Pedras de Sankara, com o Santo Graal ou com a Caveira de Cristal. Os filmes em que esses respectivos tesouros estão presentes são, no fundo, muito mais histórias sobre reestabelecer um romance com Marion Ravenwood (Karen Allen), ajudar uma aldeia humilde a reconquistar sua riqueza, reconciliar uma relação com o seu pai e formar uma nova família.
Assim, mesmo que de forma não tão brilhante como fora em seus intentos de décadas atrás, fazer as pazes com as feridas de seu atual momento de vida e com o seu grande amor é um desfecho justo para esse personagem. No fim, a Fortuna e Glória de Indiana Jones sempre foram, acima de tudo, sua empatia e humanidade ímpares.
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