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Crítica - Assassinos da Lua das Flores é maestria de Scorsese em denúncia de um problema histórico.

Crítica - Assassinos da Lua das Flores é maestria de Scorsese em denúncia de um problema histórico.

3 min.18/10/2023Guilherme Salomão

Um novo filme de Martin Scorsese (Taxi Driver, Os Bons Companheiros) quase sempre é garantia de excelência. Mesmo assim, a análise de um recorte mais recente impressiona, já que o cineasta (prestes a completar 81 anos de idade) emplacou duas obras-primas em um intervalo de quatro anos: O Irlandês, de 2019, tributo a uma geração histórica dos filmes de máfia (gênero que lhe foi dos mais frutíferos), e, agora em 2023, Assassinos da Lua das Flores, um longa que, ao narrar a história real de assassinatos ocorridos na região rica em petróleo da tribo indígena Osage, ecoa como uma forte denúncia de um problema histórico.

Inspirado em um livro homônimo de David Grann, não há mistério em Assassinos da Lua das Flores. Desde o princípio da apresentação desse universo, já ficam claras as verdadeiras intenções de apropriação por parte dos americanos brancos para com a riqueza das terras Osage- representada, logo na abertura do longa, por belos planos gerais e travelings que ressaltam a sua grandiosidade.

Assim, no decorrer da narrativa, Scorsese é paciente em embarcar detalhadamente nessa história. O tom do filme é brutal, já que o diretor, apesar de conceber em sua decupagem algumas estilizações (sobretudo nos momentos que lidam com rituais Osage e sua relação com o petróleo), adota uma linguagem que verbaliza austeridade ao longo das mais de três horas de filme. Aqui, não há tanto espaço para a romantização dos fatos.

Nesse contexto, a montagem de Thelma Schoonmaker (colaboradora de longa data do diretor) estabelece um ritmo não apressado, enquanto a trilha sonora de Robbie Robertson (falecido em agosto desse ano) aparece em momentos específicos de tensão. A câmera do cineasta, por sua vez, aposta na sua fluidez característica, como no caso de um plano-sequência em dado momento de conflito entre os personagens. Todavia, há de se destacar as passagens em que a mesma se mantém estática para captar alguns dos assassinatos- transmitindo, a partir disso, a brutalidade e a frieza por trás da obsessão por riqueza dos americanos e os seus contornos de crueldade.

O trio de protagonistas, nessas circunstâncias, são três polos que se contrapõem e se complementam na mesma medida. William Hale, interpretado por Robert De Niro, é o representante máximo da crueldade. O foco da atuação do veterano é o seu olhar, que estabelece Hale como uma cobra à espreita esperando pelos momentos certos para um bote em suas presas. Em contrapartida, nutrindo um sentimento latente de indignação podado pela impotência, Mollie Burkhart, vivida por Lily Gladstone, é a representante perfeita da vulnerabilidade Osage frente a essa exploração. Já Leonardo DiCaprio, sobrinho de Hale e marido de Burkhart, representa, em meio a ambos, uma ideia mais caricata de um norte-americano cujo a jornada (que muito se assemelha ao Henry de Ray Liotta em Os Bons Companheiros) é a de um indivíduo que se deixa levar pelos encantos e promessas de uma vida de luxos que no final culminam em arrependimento.

E por falar em final, talvez nada seja tão marcante quanto a conclusão de Assassinos da Lua das Flores. Se todos esses elementos constroem uma denúncia, na sequência derradeira, além de comentar sobre a sociedade do espetáculo norte-americana, Scorsese, assumindo ele mesmo o papel literal de denunciante, escancara a tristeza por trás de um sistema de justiça falho. A conclusão é épica por conta de um detalhe singelo, um toque de mestre que consagra o filme como um dos melhores finais (se não o melhor) de toda a filmografia do cineasta octogenário, que não se cansa de contar e fazer história.

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