
Crítica — “Capitão América: Admirável Mundo Novo” acena para o passado e mostra Marvel ainda mais estagnada em si mesma
4 min.
12/02/2025
Guilherme Salomão
Após um 2024 com apenas um lançamento, Deadpool e Wolverine, a Marvel retorna aos cinemas em 2025 com Capitão América: Admirável Mundo Novo. O filme marca o primeiro longa do herói desde que Sam Wilson, o Falcão, herdou o escudo do Capitão América, nos acontecimentos que sucedem Vingadores: Ultimato e a série Falcão e o Soldado Invernal.
Esse retorno da Marvel aos cinemas não chega a ser péssimo ou execrável, mas certamente acontece com um filme nulo em termos de novidade. É peculiar (mas talvez não uma grande surpresa) como Admirável Mundo Novo soa como uma volta no tempo, ao invés de apresentar uma proposta nova mesmo que minimamente. Não só pelo filme “idolatrar” Capitão América: O Soldado Invernal (um dos grandes sucessos do Marvel Studios) em termos de estilo e estrutura, mas também por curiosamente resgatar a relevância de um filme esquecido por uma parcela dos fãs: O Incrível Hulk, ainda estrelado por Edward Norton no papel do Gigante Esmeralda e lançado em 2008, como o segundo filme na linha temporal de um MCU ainda em formação.
Na trama, lutando para limpar sua imagem por feitos do passado, o recém-eleito presidente Ross (Harrison Ford) pede a Sam Wilson (Anthony Mackie), o então novo Capitão América, para reconstituir a Iniciativa Vingadores. No entanto, quando ocorre uma tentativa de assassinato, Ross e Sam se veem no meio de uma conspiração envolvendo um antigo contato do presidente, que busca vingança a qualquer custo.
Entre conceitos interessantes no equilíbrio entre um thriller político e um longa de ação, esse aceno ao passado até rende boas ideias para Admirável Mundo Novo: vários núcleos que se conectam em determinado momento, a busca de Ross por redenção e pela reconexão com sua filha Betty, os dilemas de Sam Wilson em relação ao seu papel como Capitão América, as intrigas e conspirações políticas. Entretanto, esses são conceitos que ficam mais no papel do que se concretizam, já que suas respectivas execuções se sustentam nas mesmas ideias de sempre, recicladas dentro do mesmo tipo de direção genérica e sem personalidade que permeia outros tantos filmes do estúdio.
Com câmera tremida, cenas de ação mal montadas, repletas de cortes incessantes e confusos, fotografia escura e CGI preguiçoso, no final da sessão este quarto Capitão América é apenas mais uma produção qualquer dentro da máquina do Marvel Studios, que precisa voltar a girar após todos os altos e baixos desde o lançamento de Ultimato — um filme que, até hoje, parece ressoar como um encerramento definitivo para os fãs desses personagens e para o público como um todo. Nem mesmo o uso de planos zenitais e planos holandeses em momentos isolados pela direção de Julius Onah (O Paradoxo Cloverfield) consegue fazer alguma diferença efetiva, soando apenas como artifícios visuais sem propósito real. Um uso pelo uso, que não garante personalidade nem impede o filme de ser um exemplar de mise-en-scène praticamente inexistente na maior parte do tempo.
O filme, em meio a isso, se mantém “assistível” porque seu elenco ainda consegue ser minimamente interessante. Apesar da resolução do arco envolvendo seu Hulk Vermelho ser completamente jogada e sem profundidade, Harrison Ford, como o agora presidente Ross, até faz valer os milhões que recebeu para substituir o falecido William Hurt. Já Anthony Mackie não chega a ser um protagonista ruim, mas também não vai além do básico com seu Sam Wilson/Capitão América. Além disso, ao abraçar inúmeras tramas simultaneamente, o filme até tenta desenvolvê-las de alguma forma, mas a maioria acaba sendo irrelevante e esquecível — como o vilão secundário interpretado por Giancarlo Esposito e uma história envolvendo um supersoldado do passado que nada acrescenta de fato à narrativa.
Além disso, a insistência em incontáveis diálogos expositivos, repletos de pausas dramáticas completamente clichês ou de explicações óbvias daquilo que o espectador já está assistindo, também não ajudam a tornar a experiência melhor, servindo mais como forma de introduzir fan services e participações especiais do que de fato em algo que agrega a narrativa. Capitão América: Admirável Mundo Novo, em suma, é mais do mesmo. Você já viu esse filme antes. E, como indica o trailer de Thunderbolts (o próximo lançamento do Marvel Studios), muito provavelmente ainda o verá algumas vezes no futuro — mas muitos acreditam que a verdadeira novidade estará no vindouro Quarteto Fantástico.