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Crítica — “Um Lugar Silencioso: Dia Um” faz dever de casa e mantém o bom nível da franquia

Crítica — “Um Lugar Silencioso: Dia Um” faz dever de casa e mantém o bom nível da franquia

3 min.27/06/2024Guilherme Salomão

Após dois bem-sucedidos filmes de uma pretendida trilogia, a franquia “Um Lugar Silencioso”, sucesso nos últimos anos entre produções de Terror, agora ganha um prelúdio. Em “Um Lugar Silencioso: Dia Um”, como o próprio nome indica, a ideia é mostrar um primeiro momento da chegada na terra das já conhecidas criaturas sensíveis a ruídos que perseguem a família Abbott em “Um Lugar Silencioso” (2018) e “Um Lugar Silencioso: Parte II” (2020). Na trama, Sam (Lupita Nyong’o) vive em uma barulhenta Nova York enquanto trata uma condição de saúde específica. Quando os monstros aterrorizantes chegam ao nosso planeta, entretanto, ela se vê unida ao jovem Eric (Joseph Quinn) em uma jornada de sobrevivência.

Apesar da ideia de contar uma história antes da que acompanhamos nos filmes dirigidos por John Krasinski e estrelados por sua esposa, Emily Blunt, “Um Lugar Silencioso: Dia Um” não é, de toda forma, um prelúdio daqueles focados em explicações científicas demasiadas ou em histórias de origem mastigadas a respeito das criaturas em si. O resultado, ao invés de uma realização burocrática rodeada de debates que podem soar desnecessários, é um filme de sobrevivência que ainda se mantém mais próximo dos outros dois da franquia.

Em relação ao suspense e ao terror, “Dia Um” faz um bom “feijão com arroz” dos filmes de “Um Lugar Silencioso”. Assim como nos filmes de Krasinski, o design de som, por exemplo, é o destaque em algumas passagens. O foco da narrativa, por sua vez, também continua sendo em pessoas. O diferencial, entretanto, vem a ser o contexto em que esses elementos são aplicados. A ação, aqui, é deslocada para uma metrópole, onde um cotidiano urbano é subitamente interrompido pelo caos. A partir disso, toda a ambientação, que ganha contornos de tragédia, é um grande acerto. O cenário apocalípitico da Nova York pós a chegada dos monstros, tomada pela poeira, por explosões, sombras e ruídos intensos, rende os momentos mais interessantes e tensos do longa.

É nesse contexto em que surgem os personagens de Lupita Nyong’o — sempre acomapnhada de um simpático gato de estimação — e Joseph Quinn. Como mencionado, “Dia Um” ainda é um filme sobre lidar com uma realidade insólita. E nesse empenho frente às adversidades, o que se sobressai, em um primeiro momento, é a união de pessoas em busca de pequenos objetivos e vitórias. Para o Eric de Quinn, os planos de uma vida são paralisados e sua motivação se torna, em dado momento, ajudar a Sam de Nyong’o. Essa, por sua vez encara o seu próprio mundo como perdido. Sofrendo com uma doença terminal, para ela não importa tanto assim sobreviver às criaturas. Sua verdadeira realização se dará em um momento onde ela finalmente consiga se reconectar consigo mesma e com suas origens.

O trabalho da dupla Lupita Nyong’o e Joseph Quinn, dito isso, é célebre em nos conectar com os seus respectivos personagens. A expressividade da atriz é muito bem aproveitada pelo diretor Michael Sarnoski (“Pig”, 2021). Seus olhos arregalados tão marcantes constantemente são postos em primeiro plano pelas lentes do cineasta, evidenciando o choque com o horror da destruição ou a melancolia dos seus momentos mais sentimentais. Já Quinn (que se destacou anteriormente em “Stranger Thigs”), também não decepciona, com um bom desempenho nos momentos de espanto ou quando urge necessidade de transparecer um jovem inocente se vendo obrigado a superar seus próprios limites.

Assim, ao mesmo tempo em que é semelhante com o que já vimos, “Um Lugar Silencioso: Dia Um” ainda consegue ser diferente em certos aspectos. A tensão segue uma lógica parecida, e apesar de alguns momentos o filme soar sem tanto propósito assim, o fator humano, o drama das pessoas comuns e a forma como os seus protagonistas se conectam, ao final, fazem dessa uma jornada satisfatória.

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