Não sabe o que assistir? Clica aqui.

    Especial Oscar 2021: Minari trata do drama da conciliação quando sonhos e família ficam em lados opostos!

    Especial Oscar 2021: Minari trata do drama da conciliação quando sonhos e família ficam em lados opostos!

    6 min.12/04/2021Guilherme Salomão

    Analisando a breve carreira do cineasta Lee Isaac Chung, pode-se considerar, em linhas gerais, que Minari é de fato o seu primeiro grande sucesso. Apesar dos seus trabalhos anteriores também elogiados, como o seu longa-metragem de estreia, Munyurangabo, de 2007, que foi para a seleção Oficial do Festival de Cannes desse mesmo ano e tornou-se o primeiro filme narrativo da história em língua quiniaruanda (uma língua falada principalmente em Ruanda, país onde esse é um dos idiomas oficiais junto do inglês e o francês), Minari, que é o seu quarto longa da carreira, é o primeiro deles a atingir um público maior, tendo em vista que uma das produtoras por trás de sua distribuição é a queridinha A-24 e, para além disso e de toda a aclamação que recebeu em festivais de cinema em 2020, chega ao Oscar de 2021 como um dos mais indicados da noite, concorrendo em 6 categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original, sendo essas duas últimas, indicações para Chung.

    Projeto muito pessoal de Lee Isaac Chung, tendo em vista que o filme é um retrato semi-biográfico da vida de seu diretor e roteirista, Minari nos conta a história de uma família sul-coreana que, nos anos 80, se muda da costa oeste americana para a zona rural do Arkansas, em busca do sonho da figura paterna, Jacob (Steven Yeun), de criar uma fazenda em solo inexplorado, que, por outro lado arriscará as suas finanças, seu casamento e a estabilidade da família. Nesse contexto, acompanhamos, muito pelos olhos de David (Alan S. Kim), o filho mais novo de Jacob e sua esposa, a adaptação da família a esse novo ambiente e modo de vida diferente, que faz com que seja necessária a vinda da avó das crianças (Yuh-Jung Youn) para ajudar nesse processo.

    De cara, Minari pode parecer uma história clichê sobre dramas familiares ou sobre os desafios da imigração e da busca pelo tão falado sonho americano. Não que esses temas não estejam presentes no filme. Eles estão. E muito, já que, na verdade, são a espinha dorsal de Minari. Porém, é o retrato intimista de Chung às situações desse cotidiano, junto do carisma de seu elenco e de uma bela trilha sonora de Emile Mosseri, que inclusive encontra-se indicado ao Oscar desse ano de Melhor Trilha Sonora por seu trabalho, que fazem de Minari uma experiência envolvente. A sua direção dá importância aos ambientes e momentos em família, tanto as brigas e conflitos, quanto os momentos de alegria e descontração nas pequenas coisas e momentos, que são vistos pelas lentes exploratórias do diretor. Sua câmera valoriza os ambientes naturais, como o novo terreno onde a família agora vive e as regiões mais florestais em volta, e os ambientes internos da humilde nova casa, nos deixando familiarizados com ambos enquanto passeamos por eles.

    Pelo lado do roteiro, Chung elabora a trama de Minari de forma bem dosada entre os já citados graciosos e bem humorados momentos familiares, como o menino David "pregando uma peça" em sua avó, e outros que enfatizam os, também mencionados anteriormente, dramas e desafios. De uma maneira muito humana e realista, nós, espectadores, estamos a todo momento acompanhando a busca do pai pela autorrealização e sucesso de sua fazenda e os perrengues advindos disso, sejam esses uma forma de buscar água sem muitos gastos; uma tempestade que ameaça destruir até mesmo a casa onde vive a sua família; um outro trabalho que necessita ser feito em paralelo enquanto o sucesso de seu sonho ainda é uma incógnita; o desafio da adaptação das crianças, principalmente de David, que ainda por cima sofre com um problema de coração, e até mesmo a resistência por parte de sua esposa, Monica (Ye-Ri Han), que é contra os ideais do marido e acha que a família deveria voltar para seu estilo de vida anterior, onde ela enxerga mais estabilidade e futuro.

    Dito isso, é nesse contexto que o filme coloca em oposição família e sonhos, de forma a não promover a ideia de que o seu espectador tenha que optar em ficar de um lado ou de outro. Existe aqui um conflito entre o pai e a mãe, com o primeiro deles tendo a noção de que, caso opte por seu sonho, causará a separação de sua família, e a segunda, caso escolha por apoiar o marido, estará abdicando de sua crença num futuro que ela acredita que seja mais garantido, porém, que trará como consequência a família separada. Aqui, Chung nos deixa claro que essa não é uma escolha fácil e utiliza da tragédia para promover, no final, a sua conciliação, que mais possui um ar de reconstrução para esses indivíduos. Em determinado momento da trama, um acidente envolvendo a avó da família, que do meio para o final da projeção passa a sofrer de uma doença, e tudo que foi produzido na fazenda, faz com que essa disputa entre sonhos e família seja posta de lado, promovendo um final onde, na verdade, ambos, tanto sonhos, quanto família, sobrevivam para um futuro incerto.

    No meio disso tudo, não poderiam deixar de ser mencionadas as excelentes performances de todo o elenco, que são um fator chave para que o público se envolva com a trama. Aqui vale o destaque mais que merecido para Steven Yeun, que por seu papel como o chefe de família está indicado ao Oscar desse ano de Melhor Ator principal, e, principalmente, para Youn Yuh-Jung, a intérprete de Soonja, a avó das crianças, que entrega uma das melhores performances do ano de 2020, que a rendeu também uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, onde qualquer resultado contrário a uma vitória seria uma injustiça completa. Junto deles, o gracioso Alan S. Kim, intérprete de David, o menino de 7 anos, também merece ser mencionado, principalmente pelas inevitáveis doses de "fofura" que o ator mirim espalha ao longo das duas horas de filme.

    Minari, como explicado por Soonja em um momento em que ela vai com seu neto, David, plantar uma pequena semente, trata-se de uma planta comestível de origem coreana, algo próximo de um Agrião de folhas pequenas, lembrando muito o que conhecemos como salsinha. Ao final do longa, após todas as tragédias, desentendimentos e momentos de conciliação, a pequena semente de Minari se tornou uma bela e rica muda. No final das contas, é sobre isso que Minari, o filme, é em si: A história de uma família de imigrantes plantando suas sementes em um território estrangeiro e, consequentemente, novo e inexplorado, onde no meio dos desafios e problemas advindos disso, espera que elas gerem os frutos de um tão sonhado futuro melhor.

    Fique ligado no Maratonando POP e nos siga nas redes sociais!

    Instagram

    Facebook

    Youtube

    Anúncio

    Populares

    Anúncio

    Vídeos

    Veja o que você perdeu!