Relembrando Jean-Luc Godard: O Crítico, o Cineasta, o Revolucionário!

Relembrando Jean-Luc Godard: O Crítico, o Cineasta, o Revolucionário!

4 min.

15/09/2022

Guilherme Salomão

"Eu sou um viciado em Filmes. Absolutamente louco por Cinema."

Jean-Luc Godard

Na última terça-feira, o mundo do cinema entrou em luto. Morreu, aos 91 anos de idade, o cineasta Francês Jean-Luc Godard. Comentar sobre a vida e obra de Godard é, desde o princípio, uma missão desafiante por si só. Em mais de seis décadas de carreira, o diretor construiu uma obra composta por cerca de cem registros em vídeo, entre eles curtas, longas-metragens e séries, que o consagraram como um dos realizadores mais influentes da história do cinema global. Para muitos, o cineasta mais importante da década de 1960 em diante.

Jean-Luc Godard.

"Eu sou um viciado em Filmes. Absolutamente louco por Cinema", afirma o francês em um determinado trecho de uma roda de conversa registrada em vídeo sobre o filme A Grande Testemunha (1966) e seu diretor, o também francês e influente Robert Bresson. Um cinéfilo autêntico, Godard nasceu em Paris, no ano de 1930, e começou sua trajetória no mundo do Cinema como crítico, escrevendo por anos para a renomada revista francesa Cahiers du Cinéma, ao lado de nomes também seminais da sétima arte como os de François Truffaut, Éric Rohmer, Jacques Rivette e Claude Charbol.

Nos anos 60, ao lado dos seus supracitados companheiros de crítica, após passar anos explorando o seu lado teórico, foi um dos líderes do movimento cinematográfico que ficaria conhecido como Nouvelle Vague, ou Nouvelle Vague Francesa (algo como Nova Era Francesa, em tradução livre). Um dos movimentos mais importates do cinema, que promovia, entre outros tópicos, a transgressão com as convenções e padrões do cinema comercial daquela época, advinda de mentes jovens e idealistas, determinadas a colocarem na prática crenças suas que estiveram no papel por anos.

Em Acossado (1960), seu longa-metragem de estreia, e um dos pontapés iniciais da Nouvelle Vague ao lado de Os Incompreendidos (1959), de Truffaut, Godard já deixaria claro sua ideologia enquanto diretor: a desconstrução, os experimentos com a linguagem e os comentários político-sociais ácidos. No filme, acompanhamos a história de Michel (Jean Paul Belmondo), um ladrão de carros idealista que, em uma fuga, acaba matando um policial. Fugindo para Paris, ele se reencontra com um caso amoroso, Patricia (Jean Seberg), que acaba por delatá-lo.

Belmondo e Seberg em Acossado (1960).

Inovando em técnicas de montagem e fotografia, como os Jump-cuts (uma técnica de edição que, em linhas gerais, se resume a um corte brusco em uma cena/sequência dando a sensação de salto no tempo), Acossado é, até hoje, considerado por muitos a obra fundamental de toda a vasta filmografia de Godard.

Nos anos seguintes ao filme, o diretor emplacou inúmeros outros longas também considerados hoje clássicos essenciais. Entre eles, Uma Mulher é uma Mulher (1961) e Viver a Vida (1962), estrelados por Anna Karina, a musa de Godard, O Desprezo (1963), com a icônica Brigitte Bardot, e O Demônio das Onze Horas (1965), que, além de contar com Karina, marcou também mais uma colaboração sua com Jean Paul Belmondo. Além disso, ainda no final dos anos 60, pelo ponto de vista de um ensaio da canção Sympathy for the Devil, que nomeia o documentário de 1968 aqui em questão, pelos The Rolling Stones, Godard analisou toda a cultura e a política de uma geração.

Karina e Godard.

Nas décadas subsequentes àquela que é conhecida como a primeira fase de sua carreira, optou por explorar ao máximo o seu radicalismo na desconstrução da linguagem cinematográfica e do ativismo político. Dedicando-se a obras cada vez mais experimentais, chegou a integrar o chamado "Grupo Dziga Vertov", coletivo batizado em homenagem ao cineasta experimental Soviético homônimo e que se dedicava exclusivamente a realização de filmes de manifesto.

Depois da dissolução do grupo, que durou de 1968 a 1972, Jean-Luc Godard viveu em equilíbrio entre a realização de obras experimentais, como Número Dois (1975), e mais convencionais, como Tudo vai Bem (1972) e A Vida (1979). Em 1983, causou revolta com o polêmico Je Vous Salue, Marie, que reinterpretava a imaculada cocepção e foi considerado blasfemo, chegando, inclusive, a ser censurado no Brasil.

Entre 1988 e 1998, História(s) do Cinema recontou, em oito episódios, a história da sétima arte e sua relação com o século XX como um todo. Já em 2014, o experimental Adeus à Linguagem marcou aquele que talvez seja o mais relevante de seus últimos trabalhos em vida.

No fim, foi a paixão de Godard pelo cinema e por suas infinitas possibilidades que o transformaram em um cineasta que, entre outros adjetivos, pode ser considerado visionário, peculiar, desafiador e inquieto. Seminal para o cinema e para os seus apaixonados ao redor do globo, é inegável que Jean-Luc Godard era, acima de tudo, um dos maiores devotos da sétima arte que já viveu.

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